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Ophélia

Livros. Filmes. Música. Poemas.

Ophélia

Livros. Filmes. Música. Poemas.


Publicado por Patrícia Caneira

06.05.20

Pois é, eu devia vir aqui escrever sobre Travessuras da Menina Má. Mas falhei, preciso de mais tempo para chegar ao fim da obra de Vargas Llosa. E confesso que quando A Educação de Eleanor me chegou cá a casa, não resisti. Ler livros em horas ou dias fascina-me porque significa que são bons, mesmo bons. No entanto, vi-me forçada a parar a leitura contínua quando me lembrei que tinha dois manuais enormes para ler sobre jornalismo e conflito. Foi exatamente por isto, que não o devorei num só dia. Foram precisos dois.

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Não é por acaso que a obra de Gail Honeyman é um bestseller, nem é por acaso que este foi eleito o livro do ano pela British Book Awards. É porque este é um livro completamente diferente de tudo o que até hoje tinha lido. Não é o primeiro que me faz chorar mas é certamente o primeiro que num capítulo me tem a rir à gargalhada e no segundo me deixa em lágrimas. Essa é uma das magias da obra. A outra grande magia é Eleanor Oliphant. Que personagem!

O livro conta a história de Eleanor, uma mulher nada dada a interações sociais, com uma rotina certa que se baseia em trabalhar de segunda a sexta, beber vodka durante o fim de semana e estar sozinha. Como sempre esteve. Mas esta solidão e dificuldade de interação, tem motivos válidos que vamos percebendo ao longo da história. Não é apenas a questão de um mau passado, nem de dificuldades que para mim são inimagináveis mas que sei que existem. É que Eleanor nunca foi amada, por ninguém e isso é caso sério. 

Há pessoas, as mais fracas, que temem a solidão. O que não compreendem é que há nela algo de muito libertador; assim que percebemos que não precisamos de ninguém, podemos cuidar de nós próprios. É precisamente essa a questão: é melhor cuidarmos só de nós próprios. Não podemos proteger as outras pessoas, por mais que tentemos. Tentamos, e falhamos, e o mundo desmorona-se à nossa volta, reduzindo-se a cinzas. 

Durante o seu caminho, cruza-se com um colega de trabalho e ambos assistem ao acidente de um velhote, Sammy. Graças a este episódio a vida de Eleanor dá voltas e cambalhotas e tudo aquilo que tinha como garantido deixa de ter. Mas não vos quero dizer mais nada, porque a delícia desta obra está em mergulharem sem saber bem ao que vão. 

A solidão, o passado, a perda, as pessoas, as interações. O que esperam de nós e o que nós esperamos da vida. Não sei se alguma vez esta história me vai sair do peito, confesso que tenho um nó na garganta que teima em não sair desde que acabei o livro. Gostava de um dia encontrar Eleanor ao acaso na rua e abraçá-la, sem dizer nada. Trocar as palavras por gestos, tenho a certeza que ela entenderia tudo o que quero dizer. 

Até hoje, quando me perguntavam qual o meu livro favorito tinha alguma dificuldade em dizer apenas um, rondava uns três ou quatro que estão no topo da lista, mas nenhum em concreto. Agora já tenho resposta. 

E por aí, já leram A Educação de Eleanor? O que acharam? 

A Educação de Eleanor
Gail Honeyman
328 páginas
★★★★★
 
 


Publicado por Patrícia Caneira

19.04.20

Unorthodox é a nova série documental da Netflix. Mas Unorthodox é muito mais do que apenas isso, é uma estalada de realidade que nos deixa com um nó na garganta. Baseada na autobiografia de Deborah Feldman, esta minisérie conta a história de Esty (brilhantemente interpretada por Shira Haas), uma rapariga que foge de Nova Iorque, onde vive numa comunidade judaica ultra-conservadora.

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Numa altura em que achamos que a nossa liberdade está restringida, apenas porque não podemos estar todos juntos, chega ao pequeno ecrã uma história que nos entra como um murro e nos abre os olhos para o que é realmente uma liberdade restringida. Em prol da religião, estas comunidades criam os homens para rezar e as mulheres para serem boas esposas e boas mães, nada mais que isso. 

Não existe acesso à televisão nem à internet. Tudo o que estas pessoas sabem se baseia na cultura e tradição onde nasceram e cresceram. Não aspiram ser nada mais do que aquilo que lhes disseram que deviam ser. 

Não vos conto mais nada, porque Unorthodox por si própria traz todas as explicações e o que fica por perceber dá-nos vontade de pesquisar mais. Lembro apenas que esta não é uma série ficcional, não é o retrato de uma realidade do passado. Isto é a vida real que não está assim tão distante de nós.

Confesso que não é fácil não julgar, ainda para mais quando eu nasci mulher e me abriram portas para ser o que quisesse. Mas há que saber olhar para a diferença do outro e aprender com ela. Mais não seja para aprender a não reclamar tanto, a agradecer a liberdade que me foi oferecida e a continuar a lutar pela opressão que ainda resiste. 

Mais do que um bom serão, Unorthodox é uma aula de história necessária e se estes tempos servem para alguma coisa, então que seja para aprender. 

Unorthodox 
4 episódios
Netflix
★★★★★
 


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