Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ophélia

Livros. Filmes. Música. Poemas.

Ophélia

Livros. Filmes. Música. Poemas.


Publicado por Patrícia Caneira

21.03.22

Não havia dia mais bonito para terminar este livro que o Dia Mundial da Poesia. Antes de ser fã de ficção já eu era fã de poesia, encontrar Fernando Pessoa transformou a minha forma de olhar para a vida e o meu gosto pela escrita. Antes de sonhar ser jornalista, escrevi muitos poemas, alguns guardei na gaveta e outros publiquei, no alto dos meus 18 anos, num pequeno livro chamado Ponto e Vírgula

Quando comecei a ler os poemas soltos que a Sónia Balacó ia deixando algures nas redes, percebi que precisava de lê-los todos. E sorte a minha, apareceu-me o Constelação como presente de aniversário. A Sónia é hoje, juntamente com a Filipa Leal, a minha poeta (sim, poeta) favorita. Segue as linhas com liberdade, sem versos contados, sem rimas e sem métricas. E este Constelação reúne alguns dos poemas mais bonitos que já li. Fica apenas um ilustrado mas não posso deixar de vos pedir que leiam o Faz mais sentido que as coisas desaparecam à noite, o poema da página 32 e o poema da página 90

FullSizeRender.jpg

Há quem diga que os poetas não servem para nada. Eu cá acho que não seria nada sem os poetas. 

Constelação
Sónia Balacó
113 páginas 
★★★★★


Publicado por Patrícia Caneira

15.03.22

Já fazia parte da minha lista há alguns anos, principalmente depois de ler o emblemático 1984 de George Orwell. Mas confesso que foi a sugestão da Vera que me levou a ir em busca desta obra às bibliotecas mais próximas (que é como quem diz às estantes de amigos e conhecidos). E assim foi. Em poucos dias tinha na mão uma edição de 2017 da revista Visão, traduzida por Paulo Faria. 

a quinta dos animais.png

O livro começa com uma breve nota do tradutor que justifica a escolha do título Quinta dos Animais, mais fiel ao original Animal Farm, em vez daquele presente na edição portuguesa de 1976: O Triunfo dos Porcos. Devo confessar, caro tradutor, que não partilhamos da mesma opinião e que depois de ler o livro fiquei bastante triste por não ser este último o título escolhido. 

E é em jeito de fábula que Orwell apresenta uma crítica à União Soviética de Estaline. A história fala da Quinta do Infantado onde viviam vários animais a mando do Sr. Reis. Certo dia, cansados de trabalhar e ver a sua ração e qualidade de vida reduzida, decidem colocar em marcha uma revolução que tinha como objetivo expulsar o Sr. Reis e tornarem-se eles mesmos donos da quinta. Assim, todos seriam recompensados pelo seu trabalho, nunca faltaria comida, tinham até direito a dias de folga e a uma reforma descansada.

As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.

Mas quando a revolução toma lugar e a quinta passa a ser gerida por Napoleão (um dos porcos mais respeitados da quinta), as promessas e ideias originais dão lugar a benefícios para os porcos - autointitulados os mais inteligentes, encarregues de pensar e escrever. E claro, menos direitos para todos os outros animais, que começam a sentir com força a fome, o frio e o medo. 

É então em jeito de sátira que Orwell constrói esta história, com um desenrolar e um final não muito diferente daquele a que muitas vezes somos expostos como humanos. Li a obra ainda antes de rebentar a guerra na Ucrânia. Infelizmente faz agora mais sentido. 

A Quinta dos Animais
George Orwell

156 páginas
★★★★☆

Fica para banda sonora uma das canções do grande álbum Animals, lançado em 1977 pelos Pink Floyd.

 


Publicado por Patrícia Caneira

01.02.22

Isto Acaba Aqui de Colleen Hoover ou como ficar de coração partido após 336 páginas, foi o segundo livro que li este ano e... meu deus! Se eu achava que já conhecia todas as manifestações de sentimentos que existem, com esta obra aprendi umas quantas outras! Dei por mim a rir à gargalhada, a levantar a sobrancelha em jeito desconfiado e a chorar compulsivamente como se aquela história fosse minha. E é. É de todas nós. 

IMG_3884.jpg

Esta é talvez uma das obras mais conhecidas da autora, que não parava de me aparecer como sugestão em tudo o que era rede social. E talvez por isso, e também por ter gostado de Verity, foi a minha escolha para ler nos últimos dias de janeiro. E não será surpresa depois do meu primeiro parágrafo dizer-vos que adorei!

A essência de Colleen Hoover é esta, romances com personagens comuns e histórias que envolvem amor, drama, perda e dor. Isto Acaba Aqui (ou It Ends With Us, na sua versão original) conta a história de Lily Bloom, uma jovem de vinte e cinco anos que acaba de se mudar para Boston após a morte do seu pai, com quem mantinha uma relação fria e distante marcada pela violência doméstica de que a mãe fora vítima. E é no dia do funeral, que conhece o neurocirurgião Ryle, um homem que Lily montou como perfeito: bonito, rico, inteligente. Tudo parecia alinhar-se nos astros - os dois envolvem-se,  Lily abre o seu negócio de sonho e Ryle é escolhido para fazer uma cirúrgia de risco que lhe iria garantir um currículo invejável. Até que numa noite com vinho a mais as reações de Ryle começam a indicar sinais vermelhos.

E, por muito difícil que esta escolha seja, quebramos o padrão antes que o padrão nos quebre a nós. (...) Os ciclos existem porque é extremamente doloroso quebrá-los. É necessária uma quantidade astronómica de dor e de coragem para quebrar um padrão que nos é familiar. Por vezes, parece mais fácil continuar a funcionar de acordo com os mesmos ciclos que já são familiares, ao invés de enfrentar o medo de dar o salto e de possivelmente não aterrar de pé.

A partir desse momento embarcamos na dura vida de Lily, uma filha de um agressor que desde sempre questionou como a mãe nunca o deixou, a ex amante de um sem-abrigo que agora está em Boston e é um reconhecido chef e a mulher de um homem perfeito, que diz que a ama logo depois de a agredir. Esta viagem, é intensa e deixa-nos com um sabor amargo na boca quando vemos que mesmo reconhecendo o padrão, Lily não consegue fugir.

O final do livro traz consigo um epílogo, onde Colleen Hoover explica o que a motivou a escrever este livro, como uma homenagem mas também um esforço de tentar calçar os sapatos de quem vive esta luta diariamente.

É uma história que surge como um soco, que nos envolve e nos recorda que a violência doméstica está presente. Por vezes somos os personagens principais e por vezes somos meros figurantes. Mas todos, sem exceção, devemos ser uma porta aberta para quem precisar de sair. 

A quem precisar dela: Linha de apoio à vítima - 116 006

Isto Acaba Aqui
Colleen Hoover
336 páginas
★★★★★

 


Publicado por Patrícia Caneira

21.01.22

O final de semestre para mim é sempre caótico, passem os anos que passarem, o mês de janeiro envolve sempre muita dedicação, concentração e confesso, alguma ansiedade.

Por essa mesma razão sinto a necessidade urgente de ler e escrever sobre outras coisas. E nada melhor para desanuviar do que vir aqui falar-vos do primeiro livro do ano: Verity. Pois é, rendi-me à autora da moda, a maravilhosa Colleen Hoover e embarquei a minha primeira leitura com o livro que lhe foge mais à regra e que nos chega em jeito de thriller.

IMG_3777.jpg

 A primeira coisa que me fascinou, e que tenho descoberto ao longo do tempo, é que gosto de leituras fáceis. Não digo que não seja desafiante ler Vargas Llosa ou Saramago de quando em vez, mas confesso que já lá vai o tempo em que sentia algum tipo de vergonha por me saber muito bem ler coisas mais leves, de linguagem fluída e que não têm um caratér de leitura alternativa intelectual. Sim, porque para isso já me bastam as centenas de artigos científicos que leio por mês. 

E foi mesmo essa facilidade de leitura que me permitiu acabar o Verity em pouco mais de uma semana, aproveitando as pausas no estudo e o sol de Inverno que tem tomado conta do mês de janeiro.

As personagens são interessantes e o plot twist também se torna delicioso porque não é bem aquele que suspeitamos desde o ínicio do livro. Ou melhor, o que suspeitamos, pelo menos pelas opiniões que tenho lido, também acontece mas há mais emoção naquele final do que se previa. E isso agrada-me. Confesso que me lembrou várias vezes os livros da Paula Hawkins de quem também gosto muito, sendo que ao nível do thriller parece-me que A Rapariga no Comboio e o Em Águas Sombrias estão num patamar bastante acima. 

Verity conta a história de Lowen Ashleigh, uma escritora com pouca confiança no seu trabalho que decide aceitar o desafio de terminar uma famosa série de livros da autora Verity Crawford, que ficou incapacitada depois de um acidente grave. Para conseguir escrever como ela e dar continuidade aos livros, Lowen muda-se para a casa da escritora, onde vivem também o marido e o filho. É então que no meio das memórias de Verity, Lowen encontra uma biografia que a deixa noites a fio sem dormir e a desconfiar que algo ali está mal explicado. Na luta por perceber os seus sentimentos (amor, culpa e desejo), Lowen enfrenta ainda históricas traumáticas, muitas vezes dificeis de perceber se aconteceram na realidade ou são apenas uma desejo literário que ficou por publicar. 

Um escritor nunca deve ter a audácia de escrever sobre si mesmo, a menos que esteja disposto a separar cada camada de proteção entre a sua alma e o seu livro.

De uma maneira geral, gostei bastante deste livro, não só porque me prendeu à história ansiando o que vinha depois mas também porque me fez imediatamente comprar um outro da mesma autora e isso meus caros, é talento. Por isso mesmo, vou já a meio do Isto Acaba Aqui, um romance muito mais focado nas origens de Colleen Hoover e do qual estou a gostar ainda mais.

Fica o restante feedback para quando terminar mas já me sinto na legitimidade de afirmar que Colleen Hoover veio para ficar e que poucos serão os leitores que não quererão passar os olhos numa das suas obras. Pelo menos deste lado, sinto que não me ficarei pela segunda.

E por aí, já leram alguma coisa da autora? O que recomendam? 

Verity
Colleen Hoover
320 páginas
★★★★☆


Publicado por Patrícia Caneira

15.01.21

image.png

O meu primeiro livro de 2021 é também o último de 2020, o que é uma pequena vergonha mas também uma grande vitória. Recebi A Mulher Que Correu Atrás do Vento de João Tordo como presente de aniversário em março do ano passado mas só em setembro o comecei a ler. Já andava a namorar a obra e queria muito ler algo do autor por ouvir coisas tão boas a seu respeito, no entanto, assim que vi o tamanho do livro sabia que ia ser um desafio para mim já que não sou de "calhamaços". 

Para mim os livros devem ter um tamanho médio, o suficiente para me envolver na história mas também o ideal para não me deixar arrastar nas páginas. E por isso demorei mais tempo, mais precisamente alguns meses. Mas atenção, tamanho à parte sinto-me segura em dizer que este foi dos melhores livros que li até hoje. 

Estás enganada, riposta Jaime. Nós somos os nossos pais, somos o que há de pior num, e o que há de pior no outro. 
E porque não o melhor? 
Porque, se a vida fosse assim, já seriamos perfeitos. A raça humana tem milhões de anos. Não achas que, se os filhos fossem o melhor dos pais, e os filhos desses filhos também, e assim por diante, a evolução teria ido noutro sentido?

A Mulher Que Correu Atrás do Vento conta a história de quatro mulheres: Lisbeth, Beatriz, Graça Boyard e Lia, que existem em décadas diferentes mas que têm um destino que as une a todas, muitas vezes sem saberem. Os capítulos são contados na voz destas mulheres que intercaladamente falam das suas chegadas e partidas, do amor que vem por vezes sob a forma de buraco sem fundo, sobre a dor de existir e sobre o facilitismo de largar a vida. 

Este é um livro extremamente completo não só porque dentro dele existem dezenas de histórias, todas bem construídas e fundamentadas mas também porque as personagens que surgem são humanas e iguais a todos nós. As referências literárias e musicais de João Tordo que aparecem ao longo das páginas provam também que este merece (e muito) ser um dos autores portugueses de maior destaque. 

O final vem em jeito de relato pessoal, onde o autor encarna Beatriz e nos conta a razão deste romance, atirando-nos para uma reviravolta inesperada, o que em grande parte me leva a colocá-lo no Top 3 dos melhores livros que já li.

E vocês já leram esta obra? O que mais aconselham do autor?

A Mulher Que Correu Atrás do Vento
João Tordo
504 páginas
★★★★☆
 

 


Publicado por Patrícia Caneira

30.09.20

52DDFE67-DF8D-4E5E-A0E7-401F8723B365.JPG

Andava em busca da maravilhosa Jane Austen há algum tempo. Sempre que entrava numa Bertrand ou numa Fnac lá ia eu procurar o Orgulho e Preconceito mas por essas mesmas razões, orgulho e preconceito, acabava por nunca trazer o livro comigo: ou a capa não era a que tinha idealizado, ou a edição era em inglês ou até mesmo o preço me incomodava.

Contrariamente ao que costumo fazer, antes de ler a obra já tinha visto o filme, que rapidamente se tornou num dos meus favoritos, já que adoro filmes de época e porque a história de uma jovem rapariga que no início do século XIX se recusa a casar e se apresenta como revolucionária e independente me conquistou de imediato.

Se os seus sentimentos são iguais aos que tinha em abril passado, diga-me de uma vez. As minhas afeições e desejos estão inalterados, mas uma palavra sua silenciar-me-á isto para sempre.

A história deste clássico foca-se na família Bennet, composta pelo Sr. Bennet, a mulher e as suas cinco filhas: Jane, a mais velha e mais bonita, Elizabeth, a determinada, Mary, obcecada pelas suas leituras, Kitty e Lydia, as mais novas da família, dotadas de uma grande despreocupação e sentido de humor. 

Tudo gira em torno da importância do casamento perante a sociedade, já que para viverem uma vida estável, todas as filhas deveriam casar com um homem de grande fortuna. A aventura começa quando o encantador Mr. Bingley dá um baile em Netherfield, em Inglaterra, onde se faz acompanhar por Mr. Darcy, um homem frio e de poucas palavras. Quando o primeiro vê em Jane a sua grande paixão, o segundo, sem o expressar claramente, fica encantado por Elizabeth, que na minha opinião é o sumo de toda esta história. 

Jane Austen fez um trabalho brilhante com esta obra (e seguramente com outras, embora este tenha sido o único livro que li da autora até ao momento), não só através da irreverência com que coloca como personagem central, uma mulher que procura mais do que um marido, uma vida culta e um futuro para si mesma, num romance escrito em 1797 mas também pela construção e evolução que cada personagem, mesmo as mais discretas, têm ao longo destas 280 páginas. 

A adaptação cinematográfica é uma das minhas preferidas como disse e felizmente a obra não ficou nada atrás. Aliás, despertou-me a curiosidade não só para ler outros livros da escritora mas também para ler algumas obras relacionadas com Orgulho e Preconceito, como é o caso de A Independência de Uma Mulher de Colleen McCullough, que conta a história de Mary Bennet, a irmã do meio cujo futuro fica em aberto na obra de Jane Austen.

E vocês já leram algum destes livros? O que acharam? 

Orgulho e Preconceito
Jane Austen
280 páginas
★★★★☆


Publicado por Patrícia Caneira

06.08.20

864FA288-D6EA-4685-97CB-70CD73FBDE2E-69E6E917-BE2DA primeira vez que li Paulo Coelho tinha 16 anos e foi-me lançado um desafio na aula de Português, tínhamos de escolher um livro especial para apresentar a toda a turma. Chegou-me em formato livro de bolso o Veronika Decide Morrer que rapidamente se tornou um dos meus livros favoritos e moldou também o meu gosto pela leitura. 

Muitos anos depois, o desejo de ler novamente algo de Paulo Coelho foi crescendo, o objetivo era ler O Alquimista mas numa feira de antiguidades surgiu a oportunidade de comprar livros em segunda mão e não hesitei quando encontrei o Onze Minutos em ótimo estado e a ótimo preço.

O pecado original não foi a maçã que Eva comeu, foi achar que Adão precisava de partilhar exatamente o que ela havia experimentado. Eva tinha medo de seguir o seu caminho sem a ajuda de ninguém, então quis partilhar o que sentia. Certas coisas não se partilham.

Esta obra conta a história de Maria, uma rapariga natural do Brasil, dotada de uma beleza marcante, que sonha com uma vida melhor. Depois de várias desilusões com o amor, Maria é levada para a Suíça para trabalhar numa bôite, como prostituta. Onze Minutos não explora apenas o sexo e a sexualidade mas sim o amor-próprio, a descoberta do corpo, da alma, da dor, do sofrimento e até mesmo do amor. 

Comparando com o primeiro livro que li de Paulo Coelho, não posso dizer que esta é uma obra incrível mas considero-a uma obra leve e que relata um tema interessante que não aparece nas estantes muitas vezes. Uma outra vantagem de ler Paulo Coelho é que a escrita do autor é acessivel e envolvente, a ação vai-se desenrolando sem grandes fogos de artifício, com o objetivo de que todos os que se interessam por histórias a possam compreender. 

E vocês já leram Paulo Coelho? Qual a vossa obra favorita do autor?

Onze Minutos
Paulo Coelho
288 páginas
★★★☆☆

 


Publicado por Patrícia Caneira

20.07.20

0542876C-2D79-45CB-B672-EA834090963A.JPGAssim que comecei a ser uma leitora mais assídua que muitas vezes ouvi e li "quem gosta de livros e de escrever não pode morrer sem ler Vargas LLosa". Como não sabemos nada desta vida nem deste mundo não quis dar chance de acontecer algum percalço pelo caminho e não chegar a tempo de ler o autor. Foi assim que numa boa promoção me chegou cá a casa Travessuras da Menina Má. No entanto, esta não foi uma leitura linear, confesso.

Para começar cometi a grande asneira de comprar o formato livro de bolso e isso  dificultou-me bastante a vida, já que as 384 páginas em letras pequeninas me desmotivaram. Depois, comecei a ler a obra e percebi que me exigia alguma concentração, não que a escrita de Vargas LLosa seja algo impossível mas porque a contextualização histórica e todo o enlace pedem-nos foco máximo. 

Posto isto, demorei algum tempo a chegar a meio do livro mas assim que lá cheguei a segunda metade foi lida numa só manhã. Travessuras da Menina Má conta a história de um amor de uma vida inteira onde Ricardito se apaixona em miúdo pela menina má e mais tarde, a viver o seu sonho em Paris, reencontra-a novamente, o que muda a sua vida para sempre.

Ao longo da obra a menina má muda de país, de figura e até de nome e vão-se dando encontros com Ricardito,ou o menino bom como ela lhe chama, muitas vezes casuais e outras nem por isso. Em suma, o romance de Mario Vargas Llosa conta uma história de vida e de amor, onde o amor não é suficiente principalmente quando quem ama são opostos que buscam coisas completamente diferentes. De um lado, a menina má que encarna a ambição, o poder e a riqueza e do outro, o menino bom, que só ambiciona viver em Paris modestamente e desfrutar de um café numa esplanada.

- Tens ciúmes? Disse-lhe que sim, muitos. E que estava tão bonita que venderia a minha alma ao diabo, o que quer que fosse, só para fazer amor com ela ou, sequer, beijá-la. Peguei-lhe na mão e beijei-a.

Não desvendando mais, porque este é um livro que realmente todos os amantes de leituras e escrita devem ler antes de morrer, apelo a que não tenham medo de se aventurar em obras mais complexas nem de demorar o vosso tempo a devorá-las e compreendê-las. A magia dos livros é que nos tocam a todos com ritmos e intensidades diferentes. 

E vocês, já leram Mario Vargas LLosas? O que acharam?

Travessuras da Menina Má
Mario Vargas Llosa
384 páginas
★★★★☆


Publicado por Patrícia Caneira

15.06.20

IMG_5706.PNG

O livro de maio, que consta da lista que escrevi aqui, só foi terminado em junho por força das circunstâncias, que acredito definirem sempre as leituras. Chegou à minha estante há alguns anos emprestado por uma amiga que achou que ia identificar alguém próximo com a personagem. Assim foi. J. D. Salinger não tem uma escrita difícil e a história de Holden é fácil de entender até porque quem é que não percebe de solidão, rebeldia e descontentamento?

 À Espera no Centeio é uma ode aos inconformistas, que conta através de Holden Caulfield os dias seguintes à sua expulsão do colégio cheio de "armantes" e cretinos onde os pais o tinham inscrito. Esta é uma história sobre um miúdo cheio de sarcasmo e vazio de companhia, que nos mostra ao longo dos capítulos que está só e que não vê o seu lugar no mundo em parte nenhuma. Fala-nos da inocência de ser jovem e da dureza da vida adulta.

Mas enfim, ponho-me a imaginar uma data de miuditos a brincar a um jogo qualquer num grande campo de centeio e tal. Milhares de miuditos, e ninguém por perto, ninguém crescido, quero eu dizer, a não ser eu. E eu fico ali na borda de um abismo lixado. E o que eu tenho de fazer é ficar à espera no centeio e apanhar todos os que desatarem a correr para o abismo (...). Era só isso que fazia o dia inteiro. Só estar ali à espera, a apanhar os miúdos no centeio e tal. Eu sei que é uma coisa maluca, mas é a única coisa que eu gostava de ser.

Publicado em pleno século XX, este foi um dos maiores sucessos de Salinger e diria que isto se justifica pela capacidade que tem em se adaptar aos tempos. Ler À Espera no Centeio hoje ou daqui a 50 anos comportará a mesma atualidade que tinha em 1951. Não é um livro com um final surpreendente nem com um enrendo incrível mas é um livro necessário a todas as prateleiras, não só porque nos ensina a criar empatia mas como também nos mostra, entre sarcasmos e frases súbtis, que o amor está nas saudades. 

 E vocês já leram À Espera no Centeio

À Espera no Centeio
J. D. Salinger
240 páginas
★★☆☆☆

 

 


Publicado por Patrícia Caneira

06.05.20

Pois é, eu devia vir aqui escrever sobre Travessuras da Menina Má. Mas falhei, preciso de mais tempo para chegar ao fim da obra de Vargas Llosa. E confesso que quando A Educação de Eleanor me chegou cá a casa, não resisti. Ler livros em horas ou dias fascina-me porque significa que são bons, mesmo bons. No entanto, vi-me forçada a parar a leitura contínua quando me lembrei que tinha dois manuais enormes para ler sobre jornalismo e conflito. Foi exatamente por isto, que não o devorei num só dia. Foram precisos dois.

B45B4C81-0DB7-4D21-BE06-EA8E629CB416.jpg

Não é por acaso que a obra de Gail Honeyman é um bestseller, nem é por acaso que este foi eleito o livro do ano pela British Book Awards. É porque este é um livro completamente diferente de tudo o que até hoje tinha lido. Não é o primeiro que me faz chorar mas é certamente o primeiro que num capítulo me tem a rir à gargalhada e no segundo me deixa em lágrimas. Essa é uma das magias da obra. A outra grande magia é Eleanor Oliphant. Que personagem!

O livro conta a história de Eleanor, uma mulher nada dada a interações sociais, com uma rotina certa que se baseia em trabalhar de segunda a sexta, beber vodka durante o fim de semana e estar sozinha. Como sempre esteve. Mas esta solidão e dificuldade de interação, tem motivos válidos que vamos percebendo ao longo da história. Não é apenas a questão de um mau passado, nem de dificuldades que para mim são inimagináveis mas que sei que existem. É que Eleanor nunca foi amada, por ninguém e isso é caso sério. 

Há pessoas, as mais fracas, que temem a solidão. O que não compreendem é que há nela algo de muito libertador; assim que percebemos que não precisamos de ninguém, podemos cuidar de nós próprios. É precisamente essa a questão: é melhor cuidarmos só de nós próprios. Não podemos proteger as outras pessoas, por mais que tentemos. Tentamos, e falhamos, e o mundo desmorona-se à nossa volta, reduzindo-se a cinzas. 

Durante o seu caminho, cruza-se com um colega de trabalho e ambos assistem ao acidente de um velhote, Sammy. Graças a este episódio a vida de Eleanor dá voltas e cambalhotas e tudo aquilo que tinha como garantido deixa de ter. Mas não vos quero dizer mais nada, porque a delícia desta obra está em mergulharem sem saber bem ao que vão. 

A solidão, o passado, a perda, as pessoas, as interações. O que esperam de nós e o que nós esperamos da vida. Não sei se alguma vez esta história me vai sair do peito, confesso que tenho um nó na garganta que teima em não sair desde que acabei o livro. Gostava de um dia encontrar Eleanor ao acaso na rua e abraçá-la, sem dizer nada. Trocar as palavras por gestos, tenho a certeza que ela entenderia tudo o que quero dizer. 

Até hoje, quando me perguntavam qual o meu livro favorito tinha alguma dificuldade em dizer apenas um, rondava uns três ou quatro que estão no topo da lista, mas nenhum em concreto. Agora já tenho resposta. 

E por aí, já leram A Educação de Eleanor? O que acharam? 

A Educação de Eleanor
Gail Honeyman
328 páginas
★★★★★
 
 

Sobre mim

foto do autor

Ophélia está a ler

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub